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abril 24, 2015

Fortes Laços


Fortes Laços
Claudia Dimer

Tristeza, não me deixes! Que eu consiga
juntar os passos teus rente aos meus passos...
Lembrar contigo uma alegria antiga,
paixões frementes, tórridos abraços...

Eu sou a irmã das dores, dos cansaços,
órfão que o mundo vê mas, não abriga...
De tanto andarmos juntas, fortes laços
criamos... Ó tristeza, grande amiga!

Existe um coração igual montanha
erguendo o Sol ao dorso em luz tamanha
mas, a montanha é pedra bem no fundo...

Rosa estranha de eternos roseirais -
tristeza! És tão sincera, vales mais
que todo o riso falso deste mundo!

abril 21, 2015

Ciranda


Ciranda

Meu coração andarilho
vagou por tanto caminho.
Tanta curva, tanto trilho,
tanta rota em desalinho.

Tanta luz de pouco brilho,
tanta flor de muito espinho.
Tanto beijo maltrapilho,
tanta cama sem carinho.

Tanta gente ao derredor,
tantas vezes eu tão só
te chamei desesperado.

Até que num belo dia
fez-se a mais louca magia
e eu acordei do seu lado.

Jenario de Fatima

outubro 06, 2013

LENÇOS DE SAUDADE

LENÇOS DE SAUDADE
(Araújo Figueredo)

As praias onde vive e dorme e sonha o mar!
Praias de minha terra, ela são uns regaços
Aos quais a gente atira, ansiosamente, os braços,
Com desejos febris de neles descansar ...

É brio do esplendor que se derrama no ar,
Nesses longes sem fim, nos profundos espaços,
E vem como um amparo a todos os cansaços,
Eu junto às praias, sinto a alma sempre a cantar.

Pelas praias vivi e delas ainda guardo
muitas recordações de amores em que ardo,
Quando as cobre da tarde o áureo fulgor do manto ...

Ah! numa tarde assim, eu te abracei, amada!
À hora do ocaso, à hora suave, à hora calada,
Com lenços de saudade alagados de pranto.

FELICIDADE

FELICIDADE
(Guilherme de Almeida)

Ela veio bater à minha porta
e falou-me a sorrir, subindo a escada:
“Bom dia, árvore velha e desfolhada”
e eu respondi: “Bom dia, folha morta”

Entrou: e nunca mais me disse nada...
Até que um dia (quando pouco importa!)
houve canções na ramaria torta
e houve bandos de noivos pela estrada...

Então chamou-me e disse:“Vou-me embora!
Sou a felicidade! Vive agora
da lembrança do muito que te fiz”

E foi assim que em plena primavera,
só quando ela partiu contou quem era...
E nunca mais eu me senti feliz!

outubro 05, 2013

AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER


AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER
(Luís Vaz de Camões)

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?

EU FAÇO VERSOS COMO QUEM CHORA

EU FAÇO VERSOS COMO QUEM CHORA
 (Manuel Bandeira)

Eu faço versos como quem chora
De desalento , de desencanto
Fecha meu livro se por agora
Não tens motivo algum de pranto

Meu verso é sangue , volúpia ardente
Tristeza esparsa , remorso vão
Dói-me nas veias amargo e quente
Cai gota à gota do coração.

E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre
Deixando um acre sabor na boca

Eu faço versos como quem morre.
Qualquer forma de amor vale a pena!
Qualquer forma de amor vale amar!

Ó NAMORADOS QUE PASSAIS...

Ó NAMORADOS QUE PASSAIS...
(Guilherme de Almeida)

Ó namorados que passais, sonhando,
quando bóia, no céu, a lua cheia!
Que andais traçando corações na areia
e corações nos peitos apagando!

Desperta os ninhos vosso passo... E quando
pelas bocas em flor o amor chilreia,
nem sei se é o vosso beijo que gorjeia,
se são as aves que se estão beijando...

Mais cuidado! Não vá vossa alegria
afligir tanta gente que seria
feliz sem nunca ouvir nem nunca ver!

Poupai a ingenuidade delicada
dos que amaram sem nunca dizer nada,
dos que foram amados sem saber!


LUAS, MARFINS...


LUAS, MARFINS...
(Jorge Luís Borges)

Luas, marfins, instrumentos e rosas,
Traços de Dürer, lampiões austeros,
Nove algarismos e o cambiante zero,
Devo fingir que existem essas coisas.

Fingir que no passado aconteceram
Persópolis e Roma e que uma areia
Subtil mediu a sorte dessa ameia
Que os séculos de ferro desfizeram.

Devo fingir as armas e a pira
Da epopeia e os pesados mares
Que corroem da terra os vãos pilares.

Devo fingir que há outros. É mentira.
Só tu existes. Minha desventura,
Minha ventura, inesgotável, pura.


NASCEMOS UM PARA O OUTRO...

NASCEMOS UM PARA O OUTRO...
(Raul de Leoni)

Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs nas carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila...

Às belezas heróicas te comparas
E em mim a luz olímpica cintila,
Gritam em nós todas as nobres taras
Daquela Grécia esplêndida e tranquila...

É tanta a glória que nos encaminha
Em nosso amor de seleção, profundo,
Que (ouço ao longe o oráculo de Elêusis)

Se um dia eu fosse teu e fosses minha,
O nosso amor conceberia um mundo
E do teu ventre nasceriam deuses...


POR QUE CHORAR?

POR QUE CHORAR?
(Olavo Bilac)

Por que chorar? Exulta, satisfeita! 
És, quando a mocidade te abandona, 
Mais que bela mulher, mulher perfeita, 
Do completo fulgor senhora e dona. 

As derradeiras messes aproveita, 
E goza! A antevelhice é uma Pomona, 
Que, se esmerando na final colheita 
Dos frutos áureos, a paixão sazona. 

Ama! e frui o delírio, a febre, o ciúme, 
E todo o amor! E morre como um dia 
Em fogo, como um dia que resume 

Toda a vida, em anseios, em poesia, 
Em glória, em luz, em música, em perfume, 
Em beijos, numa esplêndida agonia!