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setembro 28, 2024

Um Farol de Cor Vibrante




Um Farol de Cor Vibrante
(E. Arnaldo Bezerra) 

Este ano tardou a florada do ipê,
como se temesse o sol abrasador.
Mas agora, acima do medo e da dor
paira o soberbo encanto da beleza
    
Que grande espetáculo vejo!
Um troféu em ouro esculpido 
ergue-se para além do casario                                
para além dos seus telheiros.

Um troféu em amarelo triunfante,
um aviso, orientação forte e precisa 
qual farol que anuncia ao navegante,

a segurança do porto pretendido:
oh, tomai do leme de teu veleiro
e segue o rumo que o ipê te indica!

(O ipê que avisto pela veneziana)
Crato-CE,  27 09 2024


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maio 28, 2021

Te seguirei...




Te seguirei...
(Cláudia Dimer)

Irei contigo, amor... irei agora...
Tu me serás abrigo e companhia,
Eu te serei a brisa, a calmaria,
Teremos um ao outro mundo afora.

Iremos p'ra onde o amor eterno mora...
Moraremos ao lado da alegria!
De noite a luz da lua serviria
De teto e quando dia, a luz da aurora.

Te seguirei, amor, por onde fores
e sob os nossos pés nascerão flores
Que enfeitarão de sonhos as estradas...

No calor do verão, um passarinho
Há de pousar p'ra descansar juntinho
Das nossas duas sombras abraçadas.


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maio 24, 2021

FANATISMO



FANATISMO
(Florbela Espanca)

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim! ..."


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maio 22, 2021

À CAROLINA



À CAROLINA

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, — restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

Publicado no livro "Relíquias de Casa Velha" (1906).


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maio 20, 2021

VIDRAÇA


VIDRAÇA 

Foi sem querer que abriste uma janela, 
depois fechaste para o sol de outubro. 
Quero saber, então, se diante dela, 
tu me descobres como eu te descubro. 

A gratuidade é quase cega e apela
à contundência do calor mais rubro 
para fingir o que a razão revela 
quando te cobres e eu também me cubro.
 
Os dois não somos o que desde sempre 
o sol tentou mostrar pela vidraça 
que, a contragosto, diz à luz que entre. 

A claridade, assim, não ultrapassa 
um melancólico e sombrio alpendre 
onde chorar enquanto a vida passa. 

(Rogério Camargo)
Do livro: CAPIM MODESTO


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maio 09, 2021

Cândida, És Mãe!




Cândida, És Mãe!
(Tarciso Coelho)

Oh! Flor do céu! Oh! Flor cândida e pura!
És na terra exemplo de vida e vigor
Esbanjas bondade, carinho e amor
Por Deus criada és a bela escultura

Singela, eleva-se fina e alva figura
Como flor de maior alvura e maior odor
Dando ao jardim o máximo esplendor
E à terra o maior exemplo de criatura

Última indumentária dos viventes
Ao deixares tantos mortais Carentes
Quando um dia te vestirem uma mortalha

Mas se deixas tantos sobreviventes
Ao final dirão todos os presentes
Perde-se a vida, ganha-se a batalha!

30.01.2008.


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maio 07, 2021

Se eu te fosse falar...





Se eu te fosse falar...
 (Rogério Camargo)

Se eu te fosse falar da minha vida 
 não falava metade do que posso. 
 No jogo entre a chegada e a partida, 
 sobra sempre o que é meu e não é nosso.

 Sangrando o coração de uma ferida 
 que meus orgulhos erguem do destroço, 
 eu vou e sei que vou e minha ida 
 não é uma amargura que eu adoço.

 Coloco os pés no chão e eles me doem 
 porque devem doer e são leais 
 à lei que os faz e fez e continua.

 Coloco a mão nas nuvens e elas moem 
 com a delicadeza das vestais 
 qualquer riqueza em mim que seja tua. 


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abril 25, 2021

Escrevo diante da janela aberta

I

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando.

Mario Quintana, 
De: A rua dos Cataventos


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abril 24, 2021

Hora lilás...



Hora lilás...

Hora lilás, da cor desta saudade
Que não me deixa mais o coração,
Hora em que a alma toda se me invade
Só de tristeza e de desolação ...

Hora em que eu lembro a minha pouca idade
E a minha tão cruel desilusão ...
Tudo se esvai na bruma da saudade,
Essa tão doce e triste cerração ...

Hora lilás, da cor que me entristece,
Desta saudade que jamais esquece
Meu coração cansado de sofrer;

Hora em que eu vivo a vida já vivida,
Hora lilás, da cor da minha vida,
Pois é saudade só o meu viver.

Anrique Paço D’Arcos
De: Poesias Completas




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abril 06, 2021

É outono. E é Verlaine...



XXXI

É outono. E é Verlaine... O Velho Outono
Ou o Velho Poeta atira-me à janela
Uma das muitas folhas amarelas
De que ele é o dispersivo dono...

E há uns salgueiros a pender de sono
Sobre um fundo de pálida aquarela.
E há (está previsto) este abandono...
Ó velhas rimas! É acabar com elas!

Mas o Outono apanha-as... E, sutil,
Com o rosto a rir-se em rugazinhas mil,
Toca de novo o seu fatal motivo:

Um quê de melancólico e solene
— E para todo o sempre evocativo —
Na frauta enferrujada de Verlaine...


Mario Quintana
- A Rua dos Cataventos, 1940


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A NOITE NEGRA DA ALMA



A NOITE NEGRA DA ALMA

A noite negra d'alma é a agonia
do pássaro flechado no infinito;
não há regresso... O corpo se esvazia
da vida... E a morte é o santo veredito.

A noite negra é o nada... É dor... Conflito
entre a esperança e o canto de elegia...
Entre o alento e o ar, que não sacia...
Entre o sorrir do sol e o fim do dia.

A noite negra d'alma é dor perene,
é o sofrimento em rito mais solene...
É dor, a dor maior, dentro de mim!

E só resta pedir por miserere,
que o céu acalme a dor, que tanto fere...
E a paz... A paz me acolha... Sempre... Enfim!


- Patrícia Neme -


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junho 14, 2015

DESMERECIDA


DESMERECIDA
(Rogério Camargo)

Era uma flor tão simples, coitadinha,
que até nem merecia, lá pensava,
com seus botões, enquanto abotoava
a timidez com que de longe vinha,

nem merecia o olhar de quem notava
presença dela longe da rainha,
da rosa esplendorosa que reinava
feito o jardim nada além dela tinha.

Era uma flor que se acanhava inteira
e se do sol não toda se escondia
era porque morrer não gostaria.

Passei por ela e, não por brincadeira,
sorri-lhe o que melhor sorrir consigo,
que é quando o lá de fora está comigo.

ANDORINHAS


ANDORINHAS
(Jenário de Fátima)

Quando em criança, lembro das tardinhas
e da cor rubra, de tantos ocasos.
Bem lá no centro das lembranças minhas
(...E ai me enchem d’água os olhos rasos!)

me vem o voo sutil das andorinhas,
que ao frenesi do seus bater de asas,
cruzavam céus em sinuosas linhas,
fazendo evoluções no vão das casas.

Recordo ainda o que mamãe dizia;
- São Andorinhas, aves benfazejas,
Deus as fez só pra alegrar Maria

quando iam brincar com Jesus menino.
Por isso hoje vivem nas igrejas
nas altas torres onde bate o sino.

Caricaturas


Caricaturas
(Jenário de Fátima)

Quantas noites de sono nós perdemos,
revendo o velho filme, as mesmas cenas,
lamentando falhas grandes, e as pequenas
lamentando os muitos erros que tivemos.

Dos delitos de amor que cometemos,
a vida vem e nos cobra, duras penas
nos condenando a máscaras apenas,
caricaturas do que já vivemos.

Mas o que passou passou e não tem jeito
o amor ficou guardado na saudade.
guardado como um nó, dentro do peito.

E sempre ao resgatá-lo, em seus desterros,
juramos junto a toda santidade,
de não mais cometer os mesmos erros!

junho 13, 2015

Nós


Nós
(Guilherme de Almeida)

Quando as folhas caírem nos caminhos,
ao sentimentalismo do sol poente,
nós dois iremos vagarosamente,
de braços dados, como dois velhinhos,

e que dirá de nós toda essa gente,
quando passarmos mudos e juntinhos?
- "Como se amaram esses coitadinhos!
como ela vai, como ele vai contente!"

E por onde eu passar e tu passares,
hão de seguir-nos todos os olhares
e debruçar-se as flores nos barrancos...

E por nós, na tristeza do sol posto,
hão de falar as rugas do meu rosto
hão de falar os teus cabelos brancos.

SONHO ANDARILHO


SONHO ANDARILHO
(Afonso Estebanez)

O sonho é o andarilho da memória
e minha alma é apenas sua estrada
onde o amor recomeça a trajetória
por atalhos de acesso sem entrada.

Nem sempre há personagem numa história.
Nem sempre uma lembrança é relembrada.
Mas quase nunca o pesadelo é uma aurora
para alguns sonhos dissipados na alvorada.

Ai de mim, tua rota de lembrança...
Ai de ti, meu roteiro de esperança
remida pelo olhar dos passarinhos...

Contorno os rios tortos e consulto o mapa
para chegar, inda que morto, àquela etapa
onde morrer seja melhor em teus carinhos...

maio 13, 2015

Os rios


Os rios

Magoados, ao crepúsculo dormente,
Ora em rebojos galopantes, ora
Em desmaios de pena e de demora,
Rios, chorais amarguradamente,

Desejais regressar... Mas, leito em fora,
Correis... E misturais pela corrente
Um desejo e uma angústia, entre a nascente
De onde vindes, e a foz que vos devora.

Sofreis da pressa, e, a um tempo, da lembrança...
Pois no vosso clamor, que a sombra invade,
No vosso pranto, que no mar se lança,

Rios tristes! agita-se a ansiedade
De todos os que vivem de esperança,
De todos os que morrem de saudade...

Olavo Bilac
In ‘Tarde’ (1919)

Em todos os jardins

Em todos os jardins

Em todos os jardins hei-de florir,
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia.

Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia há-de abrir.

Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como num beijo.

Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.

Sophia de Mello Breyner
(1919-2004)

abril 30, 2015

SAUDADE


SAUDADE
(Bernardina Vilar)

Saudade é a imagem das recordações...
De luz acesa, crepitante chama
Que aquece a alma e gera evocações
E sem querer o desengano engana.

Saudade é um verso feito de emoções...
Acre perfume que a doçura emana
Torpor que entrando em nossos corações
Quanto mais embriaga, mais inflama...

Doce abandono... Ausência merencória...
De um passado distante a viva história
Que em nós conserva uma lembrança pura.

Saudade é o silvo agudo de um lamento
Que escutamos no perpassar do tempo
Como sendo delícia e amargura.

abril 24, 2015

ETERNA CHUVA


ETERNA CHUVA

Chove lá fora e a chuva apaga a poeira
Da minha estrada que não tem mais fim!
Seria bom que pela vida inteira
Essa chuva caísse sobre mim!

Sinto que a minha estrada sem palmeira,
Deserta, vasta e prolongada assim,
Impulsiona a minha alma sem canseira,
Para o mundo esquisito do senfim!

E eu marcho resoluto para a frente!
Cai-me a chuva nos ombros, de repente
Eu mais apresso a minha caminhada!

E assim prossigo nesse sonho eterno,
Sob a sentença de um constante inverno,
Sem promessas de sol na minha estrada!

Jansen Filho
In: Obras Completas